sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

TRABALHO PARA CASA



Estou em mais uma aula do curso do MBA de gerenciamento da qualidade. Os sábados pela manha são quentes nessa época do ano. Os bocejos denunciam o primeiro dia de retorno das férias escolares e todos os alunos estão ávidos por desejarem adquirir novos conhecimentos e contribuírem para o seu desenvolvimento intelectual.

Estão satisfeitos, simplesmente, pela sua presença, quase num tom heroico de estarem acordados em pleno sábado pela manha para discutirem conceitos tão antigos quanto o prédio que os abriga.
Mesmo não parecendo uma boa ideia, e não demonstrar ânimo exteriormente. Tenho manifestado uma grande energia e expectativa nesses dias.
Costumo acordar pela manha, fazer o meu desjejum e seguir para ponto que pego o transporte coletivo.

Enquanto a viagem acontece, gosto de “conversar” com os livros. Na esperança de encontrar um pensamento interessante e inspirar uma nova ideia, alem é claro que passar o tempo improdutivo das viagens.
Como estudantes do programa de mestrado em gestão de negócios, estamos acostumados a discutir políticas econômicas de mercados, a estudar teorias de maximização de lucros, aprender a justificar sucessos e fracassos e inflar nossos egos.

Ao adentrar pelos espaços da faculdade e como sempre atrasado, ao entrar e me acomodar na sala.  Vejo uma imagem incomum.
Não era uma discussão sobre com a União Europeia enfrenta suas dificuldades econômicas e regulam suas taxas.

Era algo muito mais importante para o mundo e, quiça, uma solução para muitos dos problemas que acontecem nesses grupos sociais exclusivos.
Ao ler a primeira frase da projeção “TÓPICOS EMERGENTES”, “FILOSOFIA”, “SOCRATES”, “SANTO AGOSTINHO”. Que raio de aula será essa?
Que tipo de conhecimento objetivo isso trará a mim, na condição de futuro executivo de minha empresa?

Isso vai agregar mais valor a mim? Perda de tempo?

Olha só, ainda tenho que produzir um texto de aproximadamente três paginas para ser entregue daqui a 15 dias sobre o que aprendi. Não! Não tenho tempo para isso. Estarei muito ocupada me planejando e depois, provavelmente, precisarei me ocupar para replanejar o que foi planejado e não foi concluído.

 Onde já se viu?

Será que eles não sabem que eu preciso trabalhar? Não tenho tempo para ficar fazendo esses “trabalhozinhos” que não vão me agregar nenhum valor.
Bem, antes de iniciar essa tarefa. Eu gostaria de me orientar no contexto de alguns dias anteriores. Vamos lá...

“Passaram-se quase 60 dias após a conclusão do semestre com a disciplina de Gestão Logística.  O recesso de final de ano foi muito aguardado pela maioria do corpo docente e, principalmente, o discente.
O merecido descanso daqueles que se esforçaram ao longo do período é recompensado nesta época. Pessoas reúnem-se com pessoas de convívio social para celebrar as festividades e crenças natalinas e também a passagem do tão aguardado novo ano.
Investem uma significativa quantia em tempo das férias, planejamento dos roteiros e muito dinheiro para garantir o almejado e valorosa satisfação pessoal.
O consumismo é o caminho para silenciar a mente inquieta e medrosa causada pelas emoções descontroladas.
O tempo caminha rumo ao futuro e é possível observar com olhos atentos à chegada das datas, inícios de projetos, ou mesmo a continuação da vida atribulada, gerando mais angustias devido à sensação de despreparo ou de simplesmente ter dedicado mais tempo.
Os dias vão chegando e pouco a pouco a rotina toma conta mais uma vez e a percepção entra num estado de transe. Os sentidos tornam-se automáticos e a mente entra em processo racionamento de energia para suprir a alta demanda de compromissos que não serão honrados.”

Bem, mas, afinal de contas. Por que escrever tudo isso para escrever apenas um relatório de aula?

Antes de respondermos a essa pergunta. Vamos entender que por enquanto essas palavras não nos tornaram mais produtivos, não nos tornaram mais eficientes em nosso trabalho e por isso não conseguiremos economizar milhões de dólares em nossos processos corporativos.

Infelizmente... Entretanto, gostaria de lhe oferecer algo de valor inestimável que muitas vezes passa por despercebido aos nossos olhos.

A nossa criticidade.

Sabemos como nos portar no mundo exterior, no mundo social. Somos profissionais competentes de olhar aguçado, e inclusive críticos e atentos em nossos deveres de altos executivos. Não deixamos passar nada de inconformidade ao nosso paladar.

Entretanto, não temos a mesma eficiência no domínio e no controle de nosso EU. Não somos capazes de filtrar estímulos estressantes abrindo nossa guarda interior. Basta algo sair do controle e nossa mente entra em colapso. 

Colocando em alerta todo o nosso corpo físico. Tornando-nos, a médio ou longo prazo, potenciais consumidores de drogas e vitimas de uma industria que gera milhões para “satisfazer” os sensos imediatistas que nos colocaram nessa situação que foge do controle e por isso tomamos mais uma decisão imediatista.

Somos grandes entusiastas num mundo físico e casual, mas apenas garotos tímidos e medrosos em nosso interior. Pessoas reativas que apenas reagem a influencias externas.

Como podemos notar. Sem identificar as necessidades de nosso EU, nunca poderemos ser autores, de fato, de nossa existência. Acabaremos sendo vitimas do nosso senso de imediatismo instintivo gerado pela falta de tempo e preocupação excessiva em sermos ”competentes profissionais”.


Sem dar atenção a esses pequenos pensamentos e ignorando essa possível porta de saída de nosso cárcere. Continuaremos a ser marionetes do senso imediatista.