Estou em mais uma aula do curso do MBA de gerenciamento da
qualidade. Os sábados pela manha são quentes nessa época do ano. Os bocejos
denunciam o primeiro dia de retorno das férias escolares e todos os alunos
estão ávidos por desejarem adquirir novos conhecimentos e contribuírem para o
seu desenvolvimento intelectual.
Estão satisfeitos, simplesmente, pela sua presença, quase
num tom heroico de estarem acordados em pleno sábado pela manha para discutirem
conceitos tão antigos quanto o prédio que os abriga.
Mesmo não parecendo uma boa ideia, e não demonstrar ânimo
exteriormente. Tenho manifestado uma grande energia e expectativa nesses dias.
Costumo acordar pela manha, fazer o meu desjejum e seguir
para ponto que pego o transporte coletivo.
Enquanto a viagem acontece, gosto de “conversar” com os
livros. Na esperança de encontrar um pensamento interessante e inspirar uma
nova ideia, alem é claro que passar o tempo improdutivo das viagens.
Como estudantes do programa de mestrado em gestão de negócios,
estamos acostumados a discutir políticas econômicas de mercados, a estudar
teorias de maximização de lucros, aprender a justificar sucessos e fracassos e
inflar nossos egos.
Ao adentrar pelos espaços da faculdade e como sempre
atrasado, ao entrar e me acomodar na sala.
Vejo uma imagem incomum.
Não era uma discussão sobre com a União Europeia enfrenta
suas dificuldades econômicas e regulam suas taxas.
Era algo muito mais importante para o mundo e, quiça, uma
solução para muitos dos problemas que acontecem nesses grupos sociais
exclusivos.
Ao ler a primeira frase da projeção “TÓPICOS EMERGENTES”, “FILOSOFIA”,
“SOCRATES”, “SANTO AGOSTINHO”. Que raio de aula será essa?
Que tipo de conhecimento objetivo isso trará a mim, na
condição de futuro executivo de minha empresa?
Isso vai agregar mais valor a mim? Perda de tempo?
Olha só, ainda tenho que produzir um texto de
aproximadamente três paginas para ser entregue daqui a 15 dias sobre o que aprendi.
Não! Não tenho tempo para isso. Estarei muito ocupada me planejando e depois,
provavelmente, precisarei me ocupar para replanejar o que foi planejado e não
foi concluído.
Onde já se viu?
Será que eles não sabem que eu preciso trabalhar? Não tenho
tempo para ficar fazendo esses “trabalhozinhos” que não vão me agregar nenhum
valor.
Bem, antes de iniciar essa tarefa. Eu gostaria de me orientar
no contexto de alguns dias anteriores. Vamos lá...
“Passaram-se quase 60
dias após a conclusão do semestre com a disciplina de Gestão Logística. O recesso de final de ano foi muito aguardado
pela maioria do corpo docente e, principalmente, o discente.
O merecido descanso
daqueles que se esforçaram ao longo do período é recompensado nesta época.
Pessoas reúnem-se com pessoas de convívio social para celebrar as festividades
e crenças natalinas e também a passagem do tão aguardado novo ano.
Investem uma
significativa quantia em tempo das férias, planejamento dos roteiros e muito
dinheiro para garantir o almejado e valorosa satisfação pessoal.
O consumismo é o
caminho para silenciar a mente inquieta e medrosa causada pelas emoções descontroladas.
O tempo caminha rumo
ao futuro e é possível observar com olhos atentos à chegada das datas, inícios de
projetos, ou mesmo a continuação da vida atribulada, gerando mais angustias
devido à sensação de despreparo ou de simplesmente ter dedicado mais tempo.
Os dias vão chegando e
pouco a pouco a rotina toma conta mais uma vez e a percepção entra num estado
de transe. Os sentidos tornam-se automáticos e a mente entra em processo
racionamento de energia para suprir a alta demanda de compromissos que não
serão honrados.”
Bem, mas, afinal de contas. Por que escrever tudo isso para
escrever apenas um relatório de aula?
Antes de respondermos a essa pergunta. Vamos entender que
por enquanto essas palavras não nos tornaram mais produtivos, não nos tornaram
mais eficientes em nosso trabalho e por isso não conseguiremos economizar milhões
de dólares em nossos processos corporativos.
Infelizmente... Entretanto, gostaria de lhe oferecer algo de
valor inestimável que muitas vezes passa por despercebido aos nossos olhos.
A nossa criticidade.
Sabemos como nos portar no mundo exterior, no mundo social.
Somos profissionais competentes de olhar aguçado, e inclusive críticos e
atentos em nossos deveres de altos executivos. Não deixamos passar nada de
inconformidade ao nosso paladar.
Entretanto, não temos a mesma eficiência no domínio e no
controle de nosso EU. Não somos capazes de filtrar estímulos estressantes
abrindo nossa guarda interior. Basta algo sair do controle e nossa mente entra
em colapso.
Colocando em alerta todo o nosso corpo físico. Tornando-nos, a médio
ou longo prazo, potenciais consumidores de drogas e vitimas de uma industria
que gera milhões para “satisfazer” os sensos imediatistas que nos colocaram
nessa situação que foge do controle e por isso tomamos mais uma decisão
imediatista.
Somos grandes entusiastas num mundo físico e casual, mas
apenas garotos tímidos e medrosos em nosso interior. Pessoas reativas que
apenas reagem a influencias externas.
Como podemos notar. Sem identificar as necessidades de nosso
EU, nunca poderemos ser autores, de fato, de nossa existência. Acabaremos sendo
vitimas do nosso senso de imediatismo instintivo gerado pela falta de tempo e
preocupação excessiva em sermos ”competentes profissionais”.
Sem dar atenção a esses pequenos pensamentos e ignorando
essa possível porta de saída de nosso cárcere. Continuaremos a ser marionetes
do senso imediatista.
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